O fim da impressão fine art no Brasil?

Estamos enfrentando uma situação nunca vista de desinformação no mercado da fotografia fine art e impressão jato de tinta (pigmento mineral) em solo brasileiro!

Só para contextualizar, o conceito Fine Art é muito amplo, pois envolve as Belas Artes, dimensão considerada o suprassumo da linguagem e expressão da humanidade desde os tempos mais longínquos. 

Entre as expressões artísticas podemos encontrar diversas vertentes milenares como a música, poesia, arquitetura, pintura, entre outras. A fotografia é um bebê nessa história criada analogicamente em 1826, e quando o assunto é a esfera digital incluindo também a posterior impressão digital, estamos falando de apenas 3 ou 4 décadas atrás.

 

Chamo a sua atenção para a diferenciação de 3 aspectos fundamentais:

1 –  O Conceito Fine Art (Belas Artes) com fins de expressão artística, contemplação, catarse e estimulação intelectual sem fins meramente práticos.

2 – A Fotografia Fine Art (com uma narrativa seguindo os princípios das Belas Artes visando a expressão em si, e não um propósito prático como a fotografia de jornalismo que segue uma pauta, ou a fotografia publicitária que segue um briefing).

As fronteiras aqui não são totalmente estanques, pois é possível que uma foto de jornalismo e publicidade “escapem” para galerias e museus pelo seu conceito visual, histórico e simbólico. Lembrando que a fotografia fine art já era feita na época analógica com os sais de prata.

3 – A impressão fine art digital (inicialmente concebida com tintas de impressoras digitais na década de 1980 e posteriormente melhoradas com pigmentos minerais ou semi) sob papel de Belas Artes seculares de algodão ou fibras nobres comprovadamente resistentes ao tempo.

 

É interessante observar como o apreço e uso de materiais que resistem ao tempo é um fator primordial na definição do conceito fine art, principalmente em países mais antigos que o Brasil, onde floresceram os clássicos movimentos artísticos da história da arte, o velho mundo como conhecemos. Só pra você ter uma ideia a 1ª Bíblia impressa foi feita em papel de algodão e dura até hoje preservada adequadamente.

 

Durante a década de 1980 até 2001, as pesquisas e testes dessa prática com impressoras digitais usando tintas pigmentadas (também desenvolvidas para resistirem ao tempo) e papéis nobres, culminaram com lançamento mundial do 1º papel com revestimento testado e preparado para receber essa tinta de pigmento mineral. A partir disso foi fundado o que conhecemos como a impressão (digital) fine art moderna.

 

De lá pra cá esse mercado cresceu no mundo todo começando timidamente em 2001 com as impressoras jato de tinta mais democráticas, crescendo em adesão global e explodindo quase 2 décadas depois no Brasil. Eu comecei como pioneiro em Cascavel-PR em 2011 e o segundo do estado. 

 

Nos grandes centros a coisa já é muito mais desenvolvida e esse trabalho de explicação sobre o conceito fine art e impressão (não tão fácil de explicar para o leigo e mercado normal) seguiu sempre nessa mesma linha lógica. É óbvio que no decorrer do caminho apareceram os compradores de impressoras fine art que acham que é só apertar o botão e pronto, já sou impressor de arte. Como se comprássemos bisturis e boom: virássemos médicos! 

 

Hoje a situação é muito crítica porque não é apenas com a compra das impressoras fine art que eles conclamam a sua titularidade imediata de artistas e printers sêniores, mas o uso de qualquer impressora e papéis chamando isso de fine art.

 

É fato que a tinta de pigmento mineral é mais cara devido a qualidade e propósito, e perfeitamente natural que outras linhas de tintas corram em paralelo no mundo da impressão como a látex, eco solvente, etc, desenvolvidas para o mercado de banners, fachadas, displays internos, etc. Dura bastante, é resistente? Claro que sim.

 

É testada para resistir ao tempo para o propósito de Belas Artes, conservação, memória, legado, comércio entre colecionadores, galerias e museus? Ainda não. É aí que mora o perigo! Não foi testado pelos organismos independentes e tem gente se aproveitando do preço baixo desse tipo de tinta usando papéis também de linhas inferiores chamando isso de fine art.

 

ATENÇÃO, o conteúdo (item 1 e 2 acima) da imagem pode até ser fine art em sua narrativa e expressão, mas não é a impressão fine art (item 3) materializada com pigmento mineral e papel nobre. Os mal intencionados fazem parecer que é tudo a mesma coisa para vender látex, solvente e papel de linha inferior, pegando carona na qualidade cromática e refinada conquistada pelo pigmento mineral e papel nobre.

Os oportunistas colocam num balaio todas as linhas de papéis defendendo que é a mesma coisa ou dissociando a longevidade do conceito fine art clássico. 

QUAIS AS IMPLICAÇÕES DISSO PARA O MERCADO E SUSTENTABILIDADE DOS NEGÓCIOS:

Como o investimento em mídia de alguns oportunistas é agressivo (vindo de outras fontes ou da falsa promessa) surgem os seguintes impactos:

1 – Confunde o iniciante na fotografia e o público final comprador que leva mais tempo para perceber o que de fato é a realidade do mercado sobre o conceito artístico fine art e gerenciamento de cores (alicerce fundamental da prática);

2 – Com esse tempo estendido toda uma rede de produtos e serviços, de quem faz o certo há décadas, é afetada achatando a qualidade (que no 🇧🇷 já é daquele jeito por conta do câmbio).

3 – Logo os importadores não vão mais trazer produtos de qualidade, o que já está acontecendo também por fatores macroeconômicos. Ou seja, o país vai regredir em oferta de produtos e serviços nessa área.

 

*Entenda qualidade não como glamour ou ostentação, porque nesse mercado qualidade significa materiais com resistência ao tempo (que não possuem lignina e acidez), preservando nossos acervos históricos, legado e memória.  Não é somente sobre aquela foto artística para galeria e museu, é também para aquela lembrança de família que precisa chegar na 3º geração.

 

QUE FIQUE CLARO: Não há problema algum usar outras tintas e papéis, até porque como eu disse no início, a fotografia fine art (item 2) já havia sido criada em tempos de revelação em prata analógica. E imprimir foto de família com pigmento mineral? Tá ok! O problema maior é confundir o cliente, não explicando as diferenças de material (item 3), empurrando o mais barato, parecendo o mais caro. Gato por lebre!

 

Será o fim do pigmento mineral em papel de algodão ou apenas uma transformação dos materiais usados no processo? Teremos consequências graves que jogarão no chão a qualidade gráfica das impressões fine art conquistadas através de anos de pesquisa e inovação pela indústria? Ou é tudo muito romantismo de país cultural e economicamente desenvolvido querendo ser aplicado em país subdesenvolvido?

O que você pensa sobre isso? Me responde aí. 

 

Ah… fiz duas lives no meu Instagram sobre isso e depois recebi ameaças de processo por trazer esclarecimento a essas questões. Copie o endereço e cole no seu navegador ou acesse meu Insta @muriloaito e vá na aba de vídeos/lives.

 

Lucidez Fine Art:

https://www.instagram.com/tv/CcOw4-yKE7M/?utm_source=ig_web_copy_link

 

Café Fotográfico com Nicolau Piratininga (Banalização Fine Art e Alternativas de Solução):

https://www.instagram.com/tv/CcT5Mh8qb2E/?utm_source=ig_web_copy_link

Abraços!

Murilo A. Ito

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